O Estigma das Doenças Mentais em Angola

Dia 2 de Abril celebrou-se o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo, data estabelecida pela Organização das Nações Unidas.

Neste mês de abril pretende-se continuar a estimular e abordar não só o Autismo como as doenças do foro psicológico, com o objetivo de estimular a nossa sociedade a ter um maior conhecimento sobre o assunto.

Os indivíduos que padecem de alguma doença do foro mental enfrentam inúmeros entraves ao longo de todo o processo. A luta por um diagnóstico médico, os sintomas da própria doença que naturalmente interferem na sua independência e qualidade de vida e o tão importante estigma social. É deste último que pretendo abordar neste artigo.

A discriminação e ausência de informação sobre a doença pode ser tão penosa e incapacitante como a doença em si, logo, o seu combate é essencial principalmente da parte dos que lhes são mais próximos, como forma de aceitação, integração no seio familiar, social e para que o indivíduo desde tenra idade possa viver de forma digna dentro das suas limitações. Não obstante, não é uma tarefa fácil principalmente no contexto angolano carregado de estigmas socio/culturais.

A sociedade africana de uma forma geral, ao longo dos séculos, tem sido marcada por mitos e crenças próprias da sua multiplicidade de grupos étnicos e pelo seu respeito e estima pelos seus ancestrais. Neste sentido, as doenças mentais, especificamente abordando o Autismo, ainda são um tabu em Angola e merecem ser tratadas com todo o respeito que a própria doença o exige. Infelizmente, na nossa cultura, de uma forma geral, a doença mental, ainda é frequentemente vista como uma perturbação sobrenatural, onde o doente presumivelmente está possuído por espíritos malignos e contagiosos. São assim excluídos, isolados do seio familiar e social pois os seus familiares diretos temem represálias.

Consequentemente recorrem ao curandeiro ou a Igreja onde são praticadas terapias espirituais, consumo de plantas medicinais e também praticas físicas violentas.

Não podemos também descurar, o facto do que o valor monetário dos tratamentos em sistema hospital e a escassez de informação e a sensibilização pelos órgãos competentes, tem criado um fosso no sucesso para o tratamento das mesmas.

Inúmeras famílias não sabem literalmente o que fazer e na maioria dos casos escondem-nos, abandona-os ou entregam- os aos chamados centros de oração e instituições de acolhimento.

No entanto, a sociedade não se tem mantido estática. Cada vez mais assistimos a uma série de iniciativas particulares no sentido de sensibilizar a população a recorrer a ajuda junto do serviço público, de organizações não governamentais e até mesmo de centros terapêuticos privados. A própria Organização Mundial da Saúde tem vindo a décadas a promover a inter-relação das práticas de saúde científicas integradas à medicina tradicional, enraizadas como cultura de um povo, no sentido de se incentivar outras perceções e abordagens para com as doenças mentais.

Texto @Dr.ª Nicole Lagrifa

Edição @UNMA

Fotografia @Dr.ª Nicole Lagrifa

Comentários

  1. Yoh Silva diz:

    Bastante interessante e relevante o artigo, principalmente, no mês que se celebra o mês de concencialização do autismo. É importante ter esses temas em pauta, conversar, esclarecer e abrir uma discussão muito interessante sobre como a nossa sociedade encara o autismo, sindromes e outras condições do foro psiquico. É muito importante para que haja mudanças para quem vive com essa condição, as suas famílias e a comunidade. Acho que temos que dar cada vez mais visibilidade a saúde mental que é fundamental, mas continua a ser um tabu na nossa sociedade.

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